A Dieta Mediterrânica, com origem no termo grego “daiata”, é um estilo de vida milenar, um modelo cultural resultante da sabedoria ancestral, transmitida de geração em geração, o qual abrange técnicas e práticas produtivas e extrativas, nomeadamente, de agricultura e pescas, formas de preparação, confeção e consumo de alimentos, festividades e convivialidades, tradições orais e expressões artísticas.
As culturas mediterrânicas são culturas de partilha e entreajuda comunitária, onde as sociabilidades assumem um papel relevante. A convivialidade à mesa constitui elemento vital da identidade cultural e da continuidade das comunidades em toda a bacia do Mediterrâneo, sendo um momento de troca social e de comunicação, uma afirmação e renovação da identidade da família, do grupo ou da comunidade. A Dieta Mediterrânica enfatiza valores da hospitalidade, vizinhança, diálogo intercultural e criatividade, desempenhando um papel vital em espaços culturais, festivais e celebrações, reunindo pessoas de todas as idades, condições e classes sociais.
A Dieta Mediterrânica é uma antiga herança cultural que todos os povos da Região Mediterrânica têm em comum: uma maneira de compartilhar a vida, a agricultura sustentável e respeito pelo meio ambiente – um estilo de vida. Com efeito, a Dieta Mediterrânica é amplamente reconhecida como uma parte significativa da herança, identidade e património cultural rico, que integra realidades e conhecimentos diversificados expressos na utilização e gestão sustentável de recursos naturais, no equílibrio do regime produtivo e alimentar, num estilo de vida único e em manifestações de sociabilidade que constituem uma herança dos povos do Mediterrâneo.
Historicamente, o Mediterrâneo foi desde a antiguidade um meio para o intercâmbio comercial e consequentemente um excelente meio de intercâmbio cultural. Podem-se identificar quatro principais períodos que influenciaram fortemente os hábitos alimentares do Mediterrâneo: o período Antes de Cristo, o Império Romano, o domínio Árabe e o período dos Descobrimentos.
No período Antes de Cristo, povos como Fenícios, Gregos e Egípcios difundiram o cultivo da oliveira, figueira, videira e amendoeira e trouxeram para o Ocidente pimenta e especiarias da Ásia. As diversas e sucessivas colonizações introduziram também nos países do Mediterrâneo o trigo, cevada e aveia bem como o gado ovino, caprino e bovino.
Com o Imperio Romano os produtos principais da alimentação mediterrânica foram sobretudo os da alimentação romana como os cereais, vinho, o azeite, os legumes secos ou verdes, frutos frescos e secos, mel, entre outros. Eram complementados por leite, queijo, carnes de animais domésticados, caça e peixe em grande quantidade. Durante este período apareceram as ânforas, que serviam para o transporte de vinho, azeite, peixe em salmoura ou garum ou mesmo cereais. Foi também introduzida uma maior variedade de cereais, novas alfaias agrícolas e melhorias na captação e condução de águas.
Com os árabes foram introduzidos os ensopados, a doçaria, compotas e licores e tinham grande importância os condimentos, como açafrão, canela ou cravinho, os frutos secos como tâmaras, passas de uva, amêndoas, nozes, avelãs e pinhões e ervas aromáticas como a hortelã, coentros, tomilho e manjerona. Desenvolveram-se também técnicas de rega e foram difundidos os citrinos um pouco por toda a região do Mediterrâneo.
Com a expansão marítima impulsionada por Portugueses e Espanhóis, a partir do século XVI, alguns produtos, introduzidos por estes dois países, tornaram-se centrais na área do Mediterrâneo, nomeadamente o milho, a batata, o tomate, o pimento, a abóbora e o chocolate.
O conceito de Dieta Mediterrânica tem origem no Estudo dos Sete Países, da iniciativa do Doutor Ancel Keys, cientista e professor da Universidade de Saúde Pública do Minnsota, nos Estados Unidos, entre 1936 e 1975. Este estudo analisou homens de meia-idade aleatoriamente selecionados em áreas rurais de sete países: Estados Unidos, Japão, Itlália, Grécia, Holanda, Finlândia e Jugoslávia. Na altura, em muitas das regiões escolhidas para a recolha de dados, as tradições e os hábitos de subsistência eram ainda os que se mantinham ao longo dos séculos. Por essa razão, os cientistas tiveram a oportunidade de avaliar com rigor e em conjunto, a dieta e o modo de vida tradicionais, conseguindo com maior precisão compreender os fatores que protegiam ou potenciavam as doenças cardiovasculares. Para além de exames clínicos, como testes sanguíneos e eletrocardiogramas, os investigadores elaboraram o historial de alimentação e realizaram análises químicas aos alimentos locais, para avaliar a saúde cardiovascular e os padrões de alimentação.
Os investigadores atribuíram a baixa incidência de doenças cardiovasculares verificada nos habitantes de Creta a uma dieta rica em gorduras monoinsaturadas (provenientes do azeite) e pequenas quantidades de gorduras saturadas. Por outro lado, as taxas de incidência elevadas verificadas na Finlândia foram atribuídas ao consumo de grandes quantidades de gordura, monoinsaturada e saturada.
O Estudo dos Sete Países, considerado por muitos como o mais importante trabalho de epidemiologia até hoje realizado, foi procedido por outros estudos, que vieram consolidar os benefícios da dieta dos países do Mediterrâneo.
A aprovação como Património Imaterial da Humanidade teve lugar no dia 04 de dezembro de 2013, no Azerbeijão, na 8ª. Sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Imaterial da UNESCO, onde a Câmara Municipal de Tavira esteve representada.
Portugal teve Tavira como a sua comunidade representativa que, neste âmbito, assegurou o processo técnico, o qual contou com parecer prévio favorável à inscrição por parte do Órgão Subsidiário da UNESCO para o Património Cultural e Imaterial.
Subscreveram esta candidatura transnacional sete Estados com culturas mediterrânicas milenares: Portugal (Tavira), Chipre (Agros), Croácia (Hvar e Brac), Grécia (Koroni), Espanha (Soria), Itália (Cilento) e Marrocos (Chefchaouen).